O texto discute alguns
pontos relevantes sobre a educação escolar de alunos com surdez à luz do
pensamento pós-moderno, defende que os processos perceptivos, linguísticos e
cognitivos poderão ser estimulados e desenvolvidos, tornando-os seres humanos com
potencialidade para adquirir e desenvolver não somente os processos
visuais-gestuais, mas a leitura e escrita das línguas em seus entornos.
Ao abordar o Atendimento
Educacional Especializado como uma nova possibilidade para as pessoas com
surdez, em que a Libras e a Língua Portuguesa escrita são línguas de
comunicação e instrução, a autora legitima a abordagem bilingüe e destaca o Decreto 5.626/2005, que
determina o direito de uma educação que garanta,
A formação da pessoa
com surdez, em que a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa,
preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam línguas de instrução, e
que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no ambiente escolar,
colaborando para o desenvolvimento de todo o processo educativo (DAMÁZIO, 2010,
p. 50).
É importante que o acesso
às duas línguas, como enfatiza a autora, seja oferecido a todas as crianças e
não apenas aquelas com surdez, pois o direito é para todos.
Para Damázio (2010, p. 14),
a inclusão do aluno com surdez deve acontecer desde a educação infantil até a
educação superior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar os recursos de que
necessita para superar as barreiras no processo educacional e usufruir os seus
direitos escolares [...]. Com isso, entendemos que para utilizarmos os recursos
possíveis de superar as barreiras os professores de sala de aula comum, precisam
também de formação continuada sobre tais temáticas uma vez que não a tivemos na
graduação ou em outros momentos formativos que nos proporcionasse conhecimentos
para desenvolvermos novas práticas.
A partir da literatura
estudada e dos pontos destacados, concordamos com a afirmativa da urgência de
deflagrarmos iniciativas que desconstruam os modelos conservadores da escola e
buscarmos formas de superar esses entraves do cotidiano educativo na escola
comum, para romper suas barreiras excludentes [...] (DAMÁZIO, 2005, p. 17).
Uma das formas que poderíamos utilizar
para desconstruir os modelos conservadores da escola seria a utilização de práticas
pedagógicas transformadoras que devem partir daqueles professores que atuam na
realidade irreal de cada sala de aula comum, considerando a participação e as
potencialidades das pessoas com surdez. Realidade irreal devido ao fato de
ainda não ser praticado o que está teorizado na literatura, nos documentos
legais. No entanto, pesquisas recentes apontam uma carência na formação
continuada oferecida aos professores das respectivas salas. Fato que já se
arrasta por várias décadas na educação brasileira. A formação quase não chega
aos professores de sala de aula comum. Quando isso acontece, uma das exigências
é estar atuando junto ao aluno com deficiência. No ano seguinte, o professor que
deveria ter realizado formação recebe o aluno que avançou. Esta é a dinâmica
planejada pelas autoridades competentes para gastar os recursos públicos e
contribuir muito pouco para melhoria do serviço.
Com as práticas
transformadoras construiríamos espaços acolhedores que, segundo Bueno (2001),
também representam relações de poder e refletem “determinações de classe, raça
e gênero e é na superação dessas determinações que poderemos, contínua e
sistematicamente, construir instituições escolares crescentemente democráticas
para os ouvintes e para os surdos” (BUENO, 2001, p. 41).
Neste sentido, Damázio (2005,
p. 18-19) alerta que “precisa ser uma escola que se organiza para todos,
independentemente de alguma pessoa ter deficiência visível, no qual todas as
diferenças são reconhecidas e a valorização do potencial humano é a prioridade
do fazer educativo cotidiano”. No entanto, penso que seria interessante se a
escola comum tivesse condições de ensinar a língua de sinais a todas as
pessoas, independente de ter ou não surdez. Para
isso, um ponto essencial é não apenas a formação de professores, mas a sua
valorização e reconhecimento pelo esforço em contribuir com a transformação social
através da educação. Desta forma, estaríamos viabilizando o diálogo entre todos
os atores no e do contexto escolar, ultrapassando o obstáculo do ensino ou não
da língua A ou B para determinado grupo ou comunidade, pois, todos tem o
direito ao conhecimento, a aprendizagem de tudo que os proporcionem autonomia
pra viver melhor numa sociedade democrática que olha pra todos sem qualquer
distinção.
Referências
BUENO, José
Geraldo Silveira. Educação inclusiva e escolarização dos surdos. Revista
Integração. Brasília: MEC. nº 23, p. 37-42, Ano 13, 2001.
DAMÁZIO, Mirlene
Ferreira Macedo. Educação Escolar da Pessoa com Surdez: uma rápida
contextualização histórica. 2005. mimeo.
Coletânea
UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo
05: Educação Escolar de Pessoas com Surdez - Atendimento Educacional
Especializado em Construção, p. 46-57.