terça-feira, 11 de março de 2014

Pontos e contrapontos de uma realidade irreal

O texto discute alguns pontos relevantes sobre a educação escolar de alunos com surdez à luz do pensamento pós-moderno, defende que os processos perceptivos, linguísticos e cognitivos poderão ser estimulados e desenvolvidos, tornando-os seres humanos com potencialidade para adquirir e desenvolver não somente os processos visuais-gestuais, mas a leitura e escrita das línguas em seus entornos.
Ao abordar o Atendimento Educacional Especializado como uma nova possibilidade para as pessoas com surdez, em que a Libras e a Língua Portuguesa escrita são línguas de comunicação e instrução, a autora legitima a abordagem bilingüe e destaca o Decreto 5.626/2005, que determina o direito de uma educação que garanta,


A formação da pessoa com surdez, em que a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam línguas de instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo educativo (DAMÁZIO, 2010, p. 50).


É importante que o acesso às duas línguas, como enfatiza a autora, seja oferecido a todas as crianças e não apenas aquelas com surdez, pois o direito é para todos.
Para Damázio (2010, p. 14), a inclusão do aluno com surdez deve acontecer desde a educação infantil até a educação superior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar os recursos de que necessita para superar as barreiras no processo educacional e usufruir os seus direitos escolares [...]. Com isso, entendemos que para utilizarmos os recursos possíveis de superar as barreiras os professores de sala de aula comum, precisam também de formação continuada sobre tais temáticas uma vez que não a tivemos na graduação ou em outros momentos formativos que nos proporcionasse conhecimentos para desenvolvermos novas práticas.
A partir da literatura estudada e dos pontos destacados, concordamos com a afirmativa da urgência de deflagrarmos iniciativas que desconstruam os modelos conservadores da escola e buscarmos formas de superar esses entraves do cotidiano educativo na escola comum, para romper suas barreiras excludentes [...] (DAMÁZIO, 2005, p. 17).
Uma das formas que poderíamos utilizar para desconstruir os modelos conservadores da escola seria a utilização de práticas pedagógicas transformadoras que devem partir daqueles professores que atuam na realidade irreal de cada sala de aula comum, considerando a participação e as potencialidades das pessoas com surdez. Realidade irreal devido ao fato de ainda não ser praticado o que está teorizado na literatura, nos documentos legais. No entanto, pesquisas recentes apontam uma carência na formação continuada oferecida aos professores das respectivas salas. Fato que já se arrasta por várias décadas na educação brasileira. A formação quase não chega aos professores de sala de aula comum. Quando isso acontece, uma das exigências é estar atuando junto ao aluno com deficiência. No ano seguinte, o professor que deveria ter realizado formação recebe o aluno que avançou. Esta é a dinâmica planejada pelas autoridades competentes para gastar os recursos públicos e contribuir muito pouco para melhoria do serviço.
Com as práticas transformadoras construiríamos espaços acolhedores que, segundo Bueno (2001), também representam relações de poder e refletem “determinações de classe, raça e gênero e é na superação dessas determinações que poderemos, contínua e sistematicamente, construir instituições escolares crescentemente democráticas para os ouvintes e para os surdos” (BUENO, 2001, p. 41). 
Neste sentido, Damázio (2005, p. 18-19) alerta que “precisa ser uma escola que se organiza para todos, independentemente de alguma pessoa ter deficiência visível, no qual todas as diferenças são reconhecidas e a valorização do potencial humano é a prioridade do fazer educativo cotidiano”. No entanto, penso que seria interessante se a escola comum tivesse condições de ensinar a língua de sinais a todas as pessoas, independente de ter ou não surdez. Para isso, um ponto essencial é não apenas a formação de professores, mas a sua valorização e reconhecimento pelo esforço em contribuir com a transformação social através da educação. Desta forma, estaríamos viabilizando o diálogo entre todos os atores no e do contexto escolar, ultrapassando o obstáculo do ensino ou não da língua A ou B para determinado grupo ou comunidade, pois, todos tem o direito ao conhecimento, a aprendizagem de tudo que os proporcionem autonomia pra viver melhor numa sociedade democrática que olha pra todos sem qualquer distinção.


Referências


BUENO, José Geraldo Silveira. Educação inclusiva e escolarização dos surdos. Revista Integração. Brasília: MEC. nº 23, p. 37-42, Ano 13, 2001. 


DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar da Pessoa com Surdez: uma rápida contextualização histórica. 2005. mimeo.


Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo 05: Educação Escolar de Pessoas com Surdez - Atendimento Educacional Especializado em Construção, p. 46-57.

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